Empresa de parente do prefeito Bi Garcia lucra milhões com monopólio de venda dos ingressos para o Festival de Parintins

Neste ano, os valores dos ingressos equivalem a um salário-mínimo.

Agência Amazônia

A Amazon Best (AB), que tem entre os sócios Geyna Brelaz, cunhada do prefeito de Parintins, Bi Garcia (União), tem o monopólio da venda dos ingressos do Festival Folclórico dos Bois-Bumbás Caprichoso e Garantido e deve faturar mais de R$ 5 milhões com a perspectiva de venda dos passaportes para os três dias do evento, neste ano, com valores que equivalem a um salário-mínimo (R$ 1.302). Geyna é esposa do empresário Valdo Garcia, representante da empresa AB.

Continua depois da Publicidade

Patrimônio Cultural Imaterial do Amazonas, o Festival de Parintins torna-se inacessível para a maioria das famílias, considerando que a média da renda familiar brasileira é de R$ 1.353 mensais, conforme a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

O contrato de exclusividade da Amazon Best para venda dos passaportes para o festival não está aberto à sociedade. A reportagem apurou que o contrato de monopólio da Amazon Best é fechado diretamente com os presidentes dos bois Caprichoso e Garantido. Os dirigentes não se manifestam sobre o assunto.

No ano passado, os presidentes dos bumbás receberam mais de R$ 10 milhões em verba pública para a realização do evento. A aplicação da verba virou alvo de investigação do Ministério Público do Amazonas (MP-AM).

Continua depois da Publicidade

Sem mostrar critérios de composição de preço e como foi beneficiada com os lugares, a Amazon Best disponibilizou um mapa de comercialização de espaços para três dias do festival no bumbódromo. Foram colocados à venda 4.492 espaços, além dos 50 camarotes que a empresa não dá transparência para comercialização. O bumbódromo tem capacidade para 35 mil pessoas, dos quais quase 20 mil espaços são destinados à venda.

Na divisão do mapa da Amazon Best, há 3.306 passaportes para a “arquibancada especial” ao preço unitário de R$ 1.145, que totalizam o faturamento de R$ 3.785.370; 592 passaportes para a “arquibancada central”, com o valor de R$ 1.495, que somam R$ 885.040; 282 ingressos para a “cadeira tipo 2”, com o preço de R$ 980, que contabilizam R$ 276.360.

Continua depois da Publicidade

Já 312 passaportes para a “cadeira tipo 1” possuem o valor unitário de R$ 1.180 que, juntos, fazem R$ 368.160. Se todos os ingressos forem vendidos – como ocorre todo o ano – a Amazon Best fatura um total de R$ 5.314.930. A situação dos outros 15.508 lugares do bumbódromo não foi explicada pela empresa nem pela Prefeitura de Parintins.

A Amazon Best entrou no festival a partir do terceiro mandato do prefeito Bi Garcia, em 2017. O prefeito foi eleito para o primeiro mandato em 2004. Em 2008, foi reeleito. Saiu em 2012 e retornou eleito em 2016. Em 2020, disputou a reeleição e foi, novamente, reconduzido ao cargo de prefeito.

Ticketeira que comercializa ingressos para o Festival de Parintins há quase seis anos, antes a operação era realizada pela Tucunaré Turismo, a atual vendedora dos ingressos do festival existe desde 1999, mas passou a operar, tecnicamente, em 2005.

O primeiro dia de abertura de vendas dos ingressos para o Festival Folclórico de Parintins, na semana passada, foi marcado por desentendimentos, confusão e a participação de agentes do Procon-AM e da Polícia Militar do Amazonas (PM-AM). O motivo foi um problema no sistema, que não disponibilizou acesso on-line para a venda dos passaportes, obrigando-os a ir até a sede da Amazon Best, localizada na rua Nova Prata, N° 225, Conjunto Vieiralves, bairro Nossa Senhora das Graças.

Em 2017, de acordo com o Portal Parintins Amazonas, o Ministério Público do Estado (MP-AM) questionou os bumbás Garantido e Caprichoso a fim de que eles informassem quais os critérios para a escolha da empresa Amazon Best na comercialização dos ingressos do festival em detrimento de outras empresas.

O MP-AM também questionou a ausência de licitação. À época, a promotora pública Carolina Monteiro Chagas Maia declarou: “Importa salientar a urgência em prestar esclarecimentos, pois, segundo informações, a referida empresa já estaria realizando a venda de ingressos para o festival 2017”. Passados seis anos, o Ministério Público do Amazonas não se manifestou, publicamente, sobre o assunto.

Sem transparência – Questionada pela reportagem da CENARIUM quanto à atuação da empresa Amazon Best até o fim do mandato do atual prefeito da cidade, Frank Bi Garcia, a Prefeitura de Parintins respondeu que o contrato é firmado com os bois bumbás Caprichoso e Garantido.

Nos sites de Caprichoso e Garantido não há transparência da venda dos ingressos e nem o que levou a escolha da Amazon Best. A empresa foi procurada para falar sobre o assunto e disponibilizou apenas o mapa dos espaços dos assentos do bumbódromo e os valores dos ingressos. A reportagem solicitou o documento e detalhes sobre percentuais repassados aos bois pela Amazon Best, mas não obteve retorno.

Lintas Serayu